Inovação no atendimento odontológico para crianças e idosos: avanços, desafios e realidade brasileira


A odontologia vive um momento de transição tecnológica e científica, com inovações que prometem transformar a forma como tratamos pacientes em todas as fases da vida. Quando olhamos para os extremos etários — infância e velhice —, esses avanços se mostram ainda mais relevantes, tanto pelo impacto positivo que podem gerar quanto pelos desafios que enfrentam para alcançar de fato quem mais precisa.
Na infância, o uso de tecnologias como a realidade aumentada e virtual tem se mostrado promissor para reduzir a ansiedade odontológica, facilitando a aceitação do tratamento. Escaneamentos digitais substituem moldagens desconfortáveis e permitem diagnósticos mais precisos. Já a odontopediatria preventiva, com uso de aplicativos educativos e gamificação, reforça bons hábitos desde cedo.
Entre idosos, a inovação assume um papel crucial diante do aumento da longevidade e da necessidade de reabilitação oral. Próteses confeccionadas por impressão 3D, planejamento digital de implantes e lasers terapêuticos oferecem tratamentos mais rápidos, precisos e menos invasivos. Além disso, tecnologias de monitoramento remoto e telessaúde têm potencial para levar o cuidado contínuo a pacientes com mobilidade reduzida ou residentes em instituições de longa permanência.
Nesse contexto, a odontologia hospitalar, a geriatria e a gerontologia odontológica ganham protagonismo ao integrar o cuidado multidisciplinar e personalizado para a população idosa. Pacientes acamados, com doenças crônicas ou em cuidados paliativos frequentemente apresentam necessidades específicas de saúde bucal, que exigem uma abordagem sensível, técnica e humanizada. A presença de cirurgiões-dentistas nos hospitais e a articulação com equipes médicas são essenciais para prevenir infecções sistêmicas de origem bucal, melhorar a qualidade de vida e reduzir internações evitáveis. Inovações como sensores intraorais, prontuários eletrônicos integrados e inteligência artificial aplicada ao risco odontológico ampliam a capacidade de resposta e de planejamento desses cuidados.
Os benefícios são claros: maior conforto, adesão ao tratamento, redução da dor e do tempo clínico, além de melhores resultados estéticos e funcionais. No entanto, esses avanços ainda enfrentam entraves importantes.
O principal desafio está no acesso. No Brasil, a disparidade entre o setor privado e o sistema público é gritante. Enquanto clínicas particulares em grandes centros já incorporam muitas dessas inovações, a maioria das Unidades Básicas de Saúde ainda opera com equipamentos antigos, profissionais sobrecarregados e ausência de políticas públicas que incentivem a adoção de novas tecnologias. A telessaúde, por exemplo, embora regulamentada, ainda é pouco utilizada na atenção básica odontológica.
A capacitação de profissionais, o custo inicial das tecnologias e a falta de integração digital entre serviços também limitam a expansão dessas inovações. Sem uma política nacional estruturada que priorize o cuidado odontológico para crianças e idosos, corremos o risco de perpetuar desigualdades históricas em saúde bucal.
Inovar no atendimento odontológico para os extremos de idade não é apenas uma escolha técnica — é uma decisão ética. É garantir qualidade de vida desde o primeiro dente até os últimos anos de vida. Para isso, é preciso que a inovação deixe de ser exceção e passe a ser política pública.
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