A importância do tratamento ortodôntico em crianças respiradoras bucais: evidências e avanços recentes


A respiração nasal desempenha papel central no crescimento e desenvolvimento crânio-facial adequado, influenciando a postura lingual, o selamento labial, o padrão mastigatório e a qualidade do sono. A substituição do padrão nasal pela respiração bucal — decorrente de obstruções nasais crônicas, hipertrofia adenoamigdaliana ou hábitos adquiridos — leva a um conjunto de alterações conhecidas como síndrome do respirador bucal.
Entre as principais repercussões clínicas encontram-se:
Má oclusão, frequentemente Classe II esquelética ou mordida aberta;
Atresia maxilar e palato ogival, com redução do volume da cavidade nasal;
Hipotonia de lábios e alteração da postura da língua;
Alterações posturais cervicais;
Distúrbios respiratórios do sono e impacto cognitivo-comportamental na infância (Villa et al., 2015; J Clin Sleep Med).
A ortopedia funcional e a ortodontia interceptativa, quando aplicadas precocemente, são capazes de redirecionar o crescimento ósseo e ampliar as vias aéreas superiores, prevenindo alterações esqueléticas mais complexas na adolescência.
Estudos demonstram que a expansão rápida da maxila (ERM) não apenas corrige a atresia transversal, mas também promove aumento significativo no volume das vias aéreas (Zhao et al., 2016; Am J Orthod Dentofacial Orthop). A literatura também aponta melhora em parâmetros respiratórios e qualidade do sono após intervenções ortopédicas (Guilleminault et al., 2011; Sleep Med).
Nos últimos anos, a prática clínica foi fortalecida por novas ferramentas e abordagens:
Aparelhos digitalmente planejados e impressos em 3D, garantindo maior precisão e conforto.
Análise volumétrica por CBCT, permitindo avaliação objetiva da resposta das vias aéreas.
Protocolos funcionais individualizados, associados à fonoaudiologia e fisioterapia orofacial, visando reeducar padrões musculares e respiratórios.
Integração interdisciplinar, envolvendo ortodontistas, otorrinolaringologistas, pediatras e fonoaudiólogos, essencial para tratar a causa multifatorial da respiração bucal.
A atuação precoce em respiradores bucais deve ser entendida como intervenção em saúde sistêmica. Além dos benefícios estéticos e funcionais, há evidências de melhora no desempenho escolar, redução de quadros de fadiga diurna e prevenção de distúrbios respiratórios do sono na vida adulta (Abreu et al., 2008; Braz Oral Res).
O tratamento ortopédico em crianças respiradoras bucais é uma intervenção baseada em evidências, com forte impacto na prevenção de más oclusões complexas e na promoção da saúde integral. A incorporação de novas tecnologias digitais e a abordagem interdisciplinar ampliam a previsibilidade dos resultados e reforçam o papel do cirurgião-dentista como agente fundamental na qualidade de vida a longo prazo.
A ortodontia preventiva não deve ser encarada como acessória, mas como uma estratégia essencial de saúde pública e clínica frente à alta prevalência de respiradores bucais no Brasil.
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