Edentulismo e saúde mental, uma conexão invisível


O edentulismo, definido como a perda completa de dentes, permanece prevalente em diversas populações, especialmente entre idosos, e afeta funções essenciais como mastigação, fala e estética facial. Além dos impactos funcionais, múltiplos estudos sugerem uma forte associação com desfechos de saúde mental, como sintomas depressivos, ansiedade, baixa autoestima e isolamento social. A relação é frequentemente bidirecional: transtornos mentais podem comprometer a adesão à higiene oral e ao tratamento odontológico, enquanto a perda dentária impacta negativamente a qualidade de vida e o bem-estar psicológico.
Revisões sistemáticas recentes indicam que indivíduos com perda dentária significativa apresentam maior prevalência de depressão e ansiedade, menor satisfação com a vida e pior qualidade de vida relacionada à saúde bucal (OHRQoL) (Hunter, 2023; Powell, 2024). Estudos longitudinais sugerem que o edentulismo pode ser preditor de sintomas depressivos futuros, enquanto pacientes com depressão apresentam risco aumentado de negligência da saúde oral e perda dentária (Hao et al., 2024).
Intervenções protéticas, incluindo próteses totais, próteses fixas e implantes, demonstram melhora significativa em domínios psicológicos, sociais e funcionais da OHRQoL. Pacientes relatam aumento da autoestima, melhor interação social e satisfação estética, com impacto positivo na saúde mental (Fouda et al., 2024). Estes achados reforçam o papel da reabilitação não apenas na função mastigatória, mas também no bem-estar psicológico.
Estudos longitudinais associam edentulismo ao declínio cognitivo em adultos mais velhos (Jones, 2023). Mecanismos propostos incluem alterações nutricionais, inflamação sistêmica e diminuição da estimulação cognitiva pela mastigação. Embora a causalidade não esteja completamente estabelecida, a associação evidencia a importância de estratégias de prevenção integradas que incluam saúde oral, nutrição e acompanhamento cognitivo.
A relação entre edentulismo e saúde mental é complexa e multifatorial. Fatores socioeconômicos, suporte social, acesso a cuidados odontológicos e comorbidades médicas podem mediar ou moderar essa associação. O cirurgião-dentista desempenha papel crucial na identificação precoce de sinais de comprometimento psicológico, implementação de planos de reabilitação funcional e integração com serviços de saúde mental e nutricional.
Triagem de saúde mental: inclusão de perguntas breves sobre humor, isolamento e satisfação social na anamnese, utilizando ferramentas validadas como PHQ-2 ou PHQ-9.
Encaminhamento adequado: pacientes com sintomas depressivos ou ansiosos devem ser encaminhados para avaliação psiquiátrica ou psicológica.
Reabilitação protética centrada no paciente: priorizar próteses ou implantes que restabeleçam função mastigatória, estética e conforto, visando melhoria da qualidade de vida e bem-estar psicológico.
Integração multidisciplinar: coordenação com nutricionistas, geriatras e outros profissionais de saúde para otimizar resultados funcionais, nutricionais e cognitivos.
Atenção à adesão e barreiras socioeconômicas: estratégias como lembretes, planos de tratamento escalonados e educação do paciente aumentam a adesão e o sucesso do tratamento.
Edentulismo não deve ser considerado apenas uma questão odontológica; é um determinante relevante de saúde mental e qualidade de vida. O cirurgião-dentista tem a oportunidade de atuar preventivamente, identificando sinais precoces, oferecendo reabilitação adequada e promovendo integração com serviços de saúde mental, contribuindo para um cuidado oral integral e centrado no paciente.
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