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Além da boca: O impacto da cárie na saúde infantil

Letícia Diamantino
Letícia Diamantino01/09/2025
Além da boca: O impacto da cárie na saúde infantil

As cáries ainda são a doença bucal mais comum na infância, frequentemente vistas como um problema isolado, restrito à boca e aos dentes. No entanto, cada vez mais estudos reforçam que sua presença pode estar relacionada a impactos além da cavidade oral, especialmente nas infecções de vias aéreas superiores, tão recorrentes entre crianças em idade escolar.

Esse elo não deve ser interpretado como coincidência. A boca é uma porta de entrada para microrganismos que podem atingir outras regiões do corpo. Crianças com múltiplas lesões de cárie ou infecções bucais ativas apresentam maior risco de inflamações persistentes, que podem comprometer a imunidade local e sistêmica. Esse processo cria um terreno fértil para episódios frequentes de amigdalites, sinusites, otites e outras infecções respiratórias.

A explicação vai além da simples presença de bactérias. A inflamação crônica causada por cáries não tratadas pode atuar como fator de estresse para o organismo, aumentando a vulnerabilidade a processos infecciosos. Soma-se a isso o impacto da dor e da dificuldade para mastigar ou dormir bem — condições que afetam diretamente o sistema imunológico e a qualidade de vida da criança.

Esse cenário traz implicações importantes para a saúde infantil. Muitas vezes, as idas repetidas ao pediatra por conta de gripes ou otites não consideram a saúde bucal como parte da investigação. Ainda é raro vermos uma integração efetiva entre pediatras e dentistas no manejo desses casos. A consequência é um ciclo: antibióticos e tratamentos paliativos para as infecções respiratórias, mas pouca atenção para o foco de origem na cavidade oral.

O desafio, portanto, é reconhecer a saúde bucal como parte fundamental da saúde geral. Programas de prevenção, consultas odontopediátricas regulares e o diálogo interdisciplinar entre profissionais da saúde podem quebrar esse ciclo. Uma criança com dentes saudáveis tem mais chances de ser uma criança com menos infecções respiratórias, mais disposição para aprender e brincar, e um desenvolvimento pleno.

No fim, o que parece “apenas uma cárie” pode ter impactos muito maiores. É hora de ampliarmos o olhar e entendermos que cuidar da boca é também cuidar da respiração, da imunidade e do bem-estar das crianças.

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