Revalidar para exercer: os caminhos desafiadores da odontologia brasileira no exterior


Com o aumento da mobilidade internacional e a busca por melhores oportunidades profissionais, muitos dentistas brasileiros têm considerado exercer sua profissão fora do país. No entanto, o sonho de atuar nos Estados Unidos, Canadá ou países da União Europeia esbarra em um complexo e burocrático processo de revalidação do diploma. Este artigo explora as principais diferenças e desafios entre os processos de validação profissional nesses destinos, além de analisar o perfil e a presença dos dentistas brasileiros nas respectivas regiões.
Nos EUA, dentistas formados no exterior enfrentam um dos processos mais rigorosos de revalidação. O “Advanced Standing Program” é a principal via para a equivalência de diploma, exigindo que o profissional curse de 2 a 3 anos adicionais em uma escola odontológica americana credenciada pela ADA (American Dental Association). Além disso:
É necessário realizar provas como o INBDE (Integrated National Board Dental Examination).
O investimento pode ultrapassar US$ 100 mil em mensalidades e taxas.
Cada estado possui regras específicas de licenciamento, o que exige atenção redobrada.
Segundo dados da American Dental Association (2023), menos de 3% dos dentistas estrangeiros licenciados no país são brasileiros, o que reflete a complexidade do processo.
O Canadá, através do National Dental Examining Board (NDEB), mantém um sistema unificado para a revalidação de diplomas odontológicos.
Profissionais formados fora do Canadá e dos EUA precisam passar pelo “Equivalency Process”, que inclui três etapas:
Avaliação de credenciais.
Exame de conhecimentos teóricos.
Exame clínico prático (OSCE).
Em caso de reprovação, a alternativa é ingressar em programas acadêmicos complementares similares aos dos EUA.
Em 2022, dados da NDEB mostram que cerca de 200 dentistas brasileiros estavam no processo de revalidação, com taxa de sucesso média inferior a 50% nas primeiras tentativas.
Na União Europeia, a revalidação depende do país de destino. Alguns dos principais destinos de dentistas brasileiros incluem Portugal, Espanha, Alemanha e Irlanda.
Portugal: O processo é regulado pelas universidades públicas, como a Universidade de Lisboa e a Universidade do Porto. Inclui análise curricular, provas teóricas/práticas e entrevista. Apesar da língua comum, o tempo médio do processo é de 1 a 2 anos.
Espanha: Exige a homologação do título junto ao Ministério da Educação, seguida de exames.
Alemanha: Impõe barreiras linguísticas (nível B2 ou C1 exigido) e avaliação prática.
Irlanda: O “Dental Council” exige a aprovação em exames clínicos e de ética profissional.
Por causa da diversidade de legislações, o processo europeu é menos padronizado, mas pode ser mais acessível em alguns contextos. Estima-se que cerca de 600 dentistas brasileiros estejam atuando legalmente na UE, com destaque para Portugal e Espanha.
Apesar da sólida formação odontológica brasileira — reconhecida internacionalmente —, os principais entraves enfrentados são:
Diferenças curriculares e exigência de complementação acadêmica.
Alto custo financeiro, tanto com traduções juramentadas quanto com exames e cursos adicionais.
Domínio de idiomas (inglês, francês, alemão, entre outros).
Tempo de espera prolongado, variando de meses a anos.
Restrições migratórias e necessidade de vistos específicos para estudo ou trabalho.
A revalidação do diploma em odontologia no exterior representa, ao mesmo tempo, uma oportunidade e um obstáculo. Para muitos dentistas brasileiros, ela significa um sonho adiado pela complexidade dos processos, pelas dificuldades financeiras ou pelas exigências culturais e linguísticas. Ainda assim, a crescente presença de profissionais brasileiros em países como Canadá e Portugal demonstra que, com planejamento, dedicação e resiliência, é possível ultrapassar as barreiras e conquistar novos horizontes na odontologia internacional.
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