Cirurgias bucais em pacientes diabéticos: Por que a atuação multiprofissional é fundamental


A crescente prevalência do diabetes mellitus no Brasil e no mundo exige atenção redobrada dos profissionais de saúde em diversas frentes, incluindo a odontologia. Estima-se que cerca de 17 milhões de brasileiros convivam com a doença, e muitos deles necessitarão de procedimentos cirúrgicos bucais ao longo da vida, como extrações, biópsias ou implantes. Mas quais são os riscos reais para esses pacientes e como podemos enfrentá-los de maneira segura e eficaz?
Pacientes com diabetes, especialmente aqueles com controle glicêmico inadequado, apresentam maior risco de infecção, dificuldade de cicatrização e complicações sistêmicas após procedimentos invasivos. Além disso, o estresse cirúrgico pode levar à descompensação glicêmica, o que, em casos graves, pode evoluir para quadros de hipoglicemia ou hiperglicemia severa.
Dessa forma, a abordagem tradicional — centrada apenas no procedimento odontológico — não é suficiente para garantir segurança e sucesso terapêutico.
É justamente nesse cenário que o trabalho de uma equipe multiprofissional se torna imprescindível. O diálogo entre cirurgiões-dentistas, médicos endocrinologistas, enfermeiros, nutricionistas e farmacêuticos permite uma avaliação global do paciente, com foco no controle metabólico prévio, no planejamento cirúrgico individualizado e no acompanhamento pós-operatório adequado.
Essa atuação coordenada facilita, por exemplo:
Avaliação do controle glicêmico, com ajuste de medicações ou insulinoterapia antes da cirurgia;
Orientações nutricionais, que ajudam a manter níveis glicêmicos estáveis no pré e pós-operatório;
Escolha criteriosa de antibióticos e anti-inflamatórios, considerando interações medicamentosas e impactos glicêmicos;
Monitoramento contínuo dos sinais vitais e evolução da ferida cirúrgica, prevenindo complicações.
Na odontologia contemporânea, o sucesso de uma cirurgia bucal em pacientes diabéticos não deve ser medido apenas pela ausência de dor ou infecção, mas pela capacidade do profissional de atuar de forma integrada, ética e centrada no paciente.
Promover esse cuidado ampliado exige, além de conhecimento técnico, uma mudança cultural: reconhecer que o dentista é parte essencial de um time e que a saúde do paciente transcende os limites da cavidade oral.
Incorporar o olhar multiprofissional no planejamento cirúrgico odontológico de pacientes diabéticos é mais do que uma boa prática — é uma necessidade ética e clínica. Cabe aos profissionais e futuros dentistas entender que, diante de condições sistêmicas complexas, o isolamento é um risco, e a colaboração, uma poderosa ferramenta para garantir saúde, segurança e qualidade de vida.
Referências:
Mealey BL, Ocampo GL. Diabetes mellitus and periodontal disease. Periodontol 2000. 2007;44(1):127–153.
Lalla E, Papapanou PN. Diabetes mellitus and periodontitis: a tale of two common interrelated diseases. Nat Rev Endocrinol. 2011 Jun;7(6):738–748.
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