Os benefícios da laserterapia na odontologia moderna


A laserterapia (fotobiomodulação – PBM) é uma aliada segura e versátil na prática odontológica. Quando bem indicada e dosada, reduz dor e inflamação, acelera reparo tecidual e melhora a experiência do paciente em diversas condições clínicas. O grande “porém”: resultados consistentes dependem de capacitação sólida, domínio de dosimetria e protocolos baseados em evidências.
PBM: uso de luz não térmica (vermelho: ~630–680 nm; infravermelho próximo: ~780–980 nm) para modular processos celulares (ATP, citocromo c oxidase, óxido nítrico), com efeitos analgésico, anti-inflamatório e biomodulador.
Não é eletrocautério nem cirurgia a laser; não tem objetivo ablativo.
Pós-operatório (exodontias complexas, periodontais, implantes): menor edema, dor e trismo; retorno funcional mais rápido.
Ortodôntico: redução de dor pós-ativação; há relatos de aceleração controlada de movimento dentário quando corretamente dosado.
ATM/dor orofacial: alívio de dor miofascial e articular, com melhora de amplitude e função quando associado a terapia miofuncional.
Aftas e herpes labial: redução de dor e tempo de reepitelização; menor recorrência no herpes se aplicado nas fases iniciais.
Mucosite oral em onco: PBM é uma das intervenções com melhor relação risco–benefício para prevenção e tratamento de mucosite induzida por quimio/radioterapia, aliviando dor e mantendo a via oral.
Queimadura bucal e úlceras traumáticas: cicatrização acelerada e analgesia local.
Síndrome da Ardência Bucal: pode reduzir dor quando integrado a uma abordagem multimodal.
Adjunto à raspagem e alisamento radicular: melhora de dor pós-operatória e marcadores inflamatórios.
Peri-implantite (como coadjuvante): modulação inflamatória e conforto, sem substituir o debridamento mecânico e a terapia antimicrobiana indicada.
Diminuição da dor por modulação neural e possível efeito sobre túbulos; útil em consultório e em ciclos seriados.
Pediatria
Procedimentos menos dolorosos e mais rápidos na recuperação; útil em aftas recorrentes, trauma labial/lingual e dor ortodôntica inicial.
Cuidados: dosimetria conservadora (área menor, menor energia por ponto), óculos de proteção ajustados e linguagem lúdica para cooperação.
Gestantes
Analgesia e anti-inflamação sem fármacos sistêmicos; pode ajudar em gengivite gravídica e dor muscular mastigatória.
Cuidados: evitar aplicação direta sobre tireoide; manter parâmetros conservadores e foco em regiões-alvo.
Idosos (inclui fragilidade e polifarmácia)
Pós-operatório mais confortável, menor necessidade analgésica; suporte na xerostomia associada a medicamentos (melhora de desconforto e lesões).
Cuidados: revisar fotossensibilizantes em uso; ritmo de sessões adaptado.
Pacientes com diabetes
Auxilia no reparo tecidual e controle inflamatório local, especialmente em periodontia e cirurgias.
Cuidados: rigor no controle glicêmico, antisepsia e acompanhamento mais próximo.
Oncológicos
Prevenção/controle de mucosite, dor e disgeusia; manutenção nutricional por menor dor na deglutição.
Cuidados: alinhar com equipe onco; respeitar campos irradiados e cronograma de quimio/radio.
Pacientes com necessidades especiais
Estratégia não invasiva, rápida e com excelente aceitação para dor, trauma e aftas; pode reduzir necessidade de intervenções farmacológicas.
Valores de referência para consultório; ajuste sempre à condição clínica, profundidade do alvo e área irradiada.
Comprimento de onda
Superficial/mucosa: vermelho (≈660 nm).
Profundo/músculo/ATM: infravermelho próximo (≈808–940 nm).
Potência de saída (contínuo): 30–200 mW em PBM.
Energia por ponto: tipicamente 1–4 J em lesões superficiais; 4–8 J em alvos mais profundos.
Densidade de energia (fluência): 2–8 J/cm² (mucosa/lesões superficiais) e 8–20 J/cm² (tecidos profundos).
Modo: contínuo ou pulsado (pulsado pode ser útil em dor/ATM; padronize para reprodutibilidade).
Técnica: contato leve ou a 1–2 mm; perpendicular; varredura lenta em áreas maiores.
Dica clínica: documente sempre potência, tempo, energia total, nº de pontos, área e localização. Isso permite reprodutibilidade e auditoria de resultados.
Proteção ocular obrigatória para paciente e equipe (filtragem adequada ao comprimento de onda).
Evitar aplicação direta sobre tireoide, olhos, lesões suspeitas de malignidade e placas de crescimento em crianças (sobre a área de crescimento).
Cautela com fármacos fotossensibilizantes (ex.: algumas tetraciclinas, tiazidas, retinoides); ajuste de dose e/ou adie.
Assepsia do terminal e barreiras; PBM não substitui controle de biofilme, debridamento ou antibioticoterapia quando indicados.
Consentimento informado específico para PBM (benefícios, riscos, alternativas, registros de parâmetros).
Dosimetria > aparelho
Dois dentistas com lasers idênticos podem ter resultados opostos se a dose não considerar profundidade, área, fototipo, vascularização, cronicidade e objetivo clínico.
Leitura crítica da evidência
Saber diferenciar estudos in vitro, ensaios clínicos e diretrizes; reconhecer desfechos clinicamente relevantes (dor, tempo de cicatrização, retorno funcional) e não apenas biomarcadores.
Integração aos fluxos clínicos
PBM funciona melhor como coadjuvante: periodontia, cirurgia, orto, dor orofacial, estomatologia e pacientes médicos complexos.
Segurança operacional
Protocolos de EPI, checklists, manutenção e calibração, rastreabilidade de sessões.
Módulo 1 – Fundamentos (6–8h)
Física da luz, interação luz-tecido, janelas terapêuticas (Red/NIR).
Dose, potência, fluência, tempo, área, número de sessões.
Segurança, normas e EPI.
Módulo 2 – Protocolos clínicos (8–12h)
Dor orofacial/ATM, pós-operatório, ortodontia, hipersensibilidade, lesões ulcerativas, mucosite.
Adaptação de dose por população (pediátrica, gestante, idoso, onco, diabético).
Casos reais com parâmetros registrados.
Módulo 3 – Integração multiprofissional (4–6h)
Interface com fono, fisio, oncologia, endocrino.
Critérios de encaminhamento e comunicação entre equipes.
Módulo 4 – Gestão e qualidade (4h)
Consentimento, prontuário, indicadores, auditoria interna.
Calibração, manutenção, biossegurança, compliance.
Mapeie indicações prioritárias do seu perfil de pacientes (ex.: pós-cirúrgico, orto, estomatologia).
Escolha do equipamento: comprimento(s) de onda, potência estável, ponteiras adequadas, assistência técnica e certificações.
Crie protocolos-padrão (SOPs) por condição, com tabelas de dose e checagem rápida (inclua “quando não usar”).
Treine a equipe (assistente/higienista) para preparo de sala, EPI, registro e educação do paciente.
Mensuração de resultados: NRS de dor, tempo de cicatrização, consumo de analgésicos, dias até retorno funcional.
Comunicação com o paciente: brochuros simples explicando o que o laser faz e o que ele não faz; alinhe expectativas.
“Laser é tudo igual.”
Não: comprimento de onda, potência e dose mudam o alvo biológico e a profundidade de ação.
“Se não doeu, não funcionou.”
PBM é não térmico; analgesia ocorre por modulação neural e inflamatória, não por calor.
“É substituto de medicação.”
É um coadjuvante valioso; pode reduzir necessidade de fármacos, mas não elimina indicações clássicas.
Óculos corretos para todos
Equipamento calibrado e higienizado
Protocolo impresso com comprimento de onda, potência, tempo, J/ponto, nº de pontos
Campos a evitar (olhos, tireoide, lesão suspeita)
Registro no prontuário com parâmetros + desfecho
A laserterapia já saiu da “promessa” e ocupa espaço maduro na odontologia baseada em evidências — desde o cuidado diário (dor, hipersensibilidade, aftas) até cenários complexos (mucosite oncológica, pós-operatórios extensos). Capacitação robusta, protocolos reprodutíveis e segurança são as chaves para transformar potencial em resultado clínico previsível.
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